A má alimentação, especialmente o consumo de ultraprocessados, tem se mostrado um grande desafio para a saúde pública no Brasil. Estudos recentes apontam que esses alimentos custam ao Sistema Único de Saúde (SUS) uma quantia alarmante de R$ 10,4 bilhões por ano. Esse valor considera não apenas os gastos diretos com tratamentos de saúde, que totalizam cerca de R$ 933,5 milhões, mas também os custos indiretos relacionados a mortes prematuras e outras complicações de saúde resultantes do consumo excessivo desses produtos.
Paralelamente, o consumo de bebidas alcoólicas representa um custo ainda maior, estimado em R$ 18,8 bilhões. Esses dados são frutos de uma pesquisa em parceria com a Fiocruz, que destaca a crescente preocupação com as doenças relacionadas à alimentação inadequada e ao uso de álcool no país. O estudo indica que cerca de 162 mil mortes ocorrem anualmente devido a essas causas, sendo 57.000 atribuídas a ultraprocessados e 105.000 ao álcool.
As ONGs envolvidas na pesquisa, como ACT Promoção da Saúde e Vital Strategies, defendem a implementação de uma taxação sobre produtos ultraprocessados e bebidas alcoólicas como uma estratégia eficaz para reduzir o consumo e, consequentemente, os impactos na saúde pública. Esse tipo de medida tem o potencial não só de gerar recursos para o tratamento das doenças causadas por esses produtos, mas também de promover escolhas mais saudáveis entre a população.
Marília Albiero, coordenadora de Inovação e Estratégia da ACT, afirmou: “Esses impostos seletivos têm, além do potencial de financiar o tratamento do que os produtos causam, o efeito de reduzir o consumo de substâncias nocivas e estimular escolhas mais saudáveis.” Apesar de esses impostos não eliminarem completamente o consumo excessivo, as estimativas sugerem que poderiam diminuir as mortes relacionadas em até 25%, salvando, assim, quase 40.000 vidas por ano.
O cenário apresentado pelos pesquisadores também ressalta que os cálculos são conservadores, focando apenas na população adulta empregada acima de 20 anos. Eles não consideram outros gastos envolvidos como prevenção, atenção primária e tratamentos em saúde suplementar. A situação exige uma reflexão profunda sobre os hábitos alimentares e a urgência de políticas públicas eficazes para enfrentar este problema crescente.